sábado, 20 de abril de 2013

Nada. Ou meteram alguma coisa em Mim.



 Para Gabriela Amorim


Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer. 
(Hilda Hilst)


Nanda!, quem é essa vagabunda que apareceu no meu rascunho quando eu pretendia escrever sobre o Nada? O amor é assim, aparece ao acaso e mete alguma coisa ou alguém no meio da sua história.  Maldição. E onde era para ser um papel em branco, aparece um romance, feito uma coisa estranha. E está tudo certo, menos você, personagem subsumido na história. Depois de tudo isso, eu só posso dizer o seguinte: Nanda me abandonou! Deu pra entender?! Aquela vagabunda foi embora! Teria ficado tudo normal, não fosse aquela coisa sem cor. Chegou assim, num dia de rock and roll. Meio feia-estranha, meio cabelo sem pentear, meio magrelo-branquela e borrada, falando discursos de natureza poético-vagabunda, com aquela boca grande, arqueada e borrada com batom vermelho.  Eu, fingindo timidez, respondi com Radiohead, Sigur Rós  até chegar em Luiz Gonzaga.  Curto caminho. Tentei ser simples. Falei de Marx, Gramsci, Foucault e fiz as devidas críticas a Nietzsche. Mas comentei também sobre meu avô que havia sido pescador e sobre como era passear de canoa no Rio São Francisco. Ela respondeu com Simone de Beauvoir, enquanto tragava nosso back sujando tudo de batom vermelho-boca-larga. E eu, querendo mostrar o quanto era um homem-feminino e delicado, pedi emprestado o batom dela.  Foram  inúmeros os discursos de perdição, ou melhor, de Metição.  Rolou. Rolou: Foi cama e se salve quem puder.  Puxava aquela cabeleira no meu pau e chupava Nanda como se quisesse entrar no mar saudando a doce e amada Iemanjá.  Aquelas pernas magrelas, recobravam-me a vida. Era como chegar ao mundo, após nove meses sem respirar.  Esperança, seria nome de qualquer possível rebento. Cavalgamos sobre ondas ao som de Gal. No meu íntimo, eu cantava Vaca Profana, ela respondia dizendo que era Uma Fruta GoGoia.  Foram horas de estertor até o momento em que colamos, ofegantes, nossas línguas e nossos sorrisos. No intervalo, pedimos sushi e saquê. Saquei tudo. Molhei todos os meus rolls dentro dela, mastigando-os posteriormente sem que nossos olhos se perdessem. Ela pediu que eu gozasse em cima do “combo hot-philadelphia” dela, rindo e dizendo que tinha pedido dobro de cream-cheese.  E assim gozamos, comemos e deitamos. Acendi o back-do-sono. Ela leu duas poesias de Leminski.  Eu cantei trechos de Satisfy my Soul, de Bob Marley, e contei que quando jovem queria ser hippie.  Dormimos e desaparecemos um do outro, assim que o sol nasceu.  E todo o gozo foi lavado.
...
 E o Nada me acompanhou, tampouco tem escrito ou ligado. Nanda dizia que adorava escrever. Louca. Bêbada. Putinha de merda ou talvez a mulher da minha vida. Fez-me perder os sentidos, ao passo em que eu recobrava todos eles.  Fui um tipo Deus quando estive dentro dela. Na(n)da em sua esplendida existência, trovejando e gemendo em vales profundos de lágrimas, agonias e mistérios gozosos enquanto a minha cruz dura a castigava sem pena. Ela me chicoteou, rebolou e me abandonou úmido, com um relógio, bem aqui, cravado na minha cabeça. Tentei ressuscitar, mas ela não aprendeu a contar o tempo da esperança. E...



Rodrigo Braz
Boulder, CO, EUA.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bus_Car

                                      Só me procure, onde não puder achar.
                                                                         Sou Lírico_Eu
                                               



Procuro-ME. E para ser feliz tenho tentado não me achar. A minha dor se chama busca. E perco-ME-cada-vez-mais. Álcool. Risadas. Conversas banais. Trabalho. Corpus teórico e corpos empíricos. Yoga. Pilates. Meditação. CinemoTerapia. Dissolvo o tempo. Tenho uma mala vazia e estou partindo há muitos meses. Existe uma porta e não consigo abri-la. Alguém aparecerá?

Procura-SE. O complemento que não há. Sinto um movimento por perto, mas estamos longe. Há alguém que não procura? Busco-Me_n_TI. Vamos lá, energia positiva! A cura: 1.200 volts no meu cérebro, 3.500 no coração. Uma loucura, tudo isso é um barato. Fórmulo questões quase óbvias: quem pode achar o que não existe? Sou sujeito e objeto transitivo-complexo. Não consigo abrir a porta. Tenho pânico. Alguém aparecerá?

Procura-MOS. De que serve a lei da gravidade se os corações não convergem para o centro? Vou apagar a luz. Todos caem. Agora posso respirar. Nem preciso esperar. Vou ficar aqui. Mas a porta... Depois que se vê, não é possível voltar atrás. Alguém aparecerá?

Complexos-Paradoxos-Dispersos. O que é a procura, senão ME desejando-TE para perder-NUS. Discursos auto-po(i)é_ticos. Amor intelecto-sexual. Chico, Café e Chocolate. Sorrisos sem tempo. Poesia na mesa. Comidas na cama. PenetrA_ção de vazios. Perco-me em versos, em prosa te crio. E descubro: não há que se procurar alguém na poesia do vazio. Mas alguém aparecerá?

Trago o cigarro, soU_Rio languidamente e deságuo no mar.
Vou pedir ajuda à Iemanjá.
Para navegar.



[Aumento o som]





Rodrigo Braz   2/3/2012    2:24h

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Das minhas chuvas

“Sem você
Dei para falar a sós”.
Chico Buarque (Sem você 2)


Choveu em QuadradosLand, molhando o vento do oco-sopro do meu coração.  Liquens e musgos voltaram a brotar nos meus olhos. As árvores, sorrindo, balançam galhos na minha languidez . Os pássaros silenciaram profundamente em cantos, o frio. Chico não pára de se dizer novamente apaixonado. Passo a língua na borra do café frio para não esquecer o gosto amargo que a felicidade pode ter. Devoro chocolates. A minha alma tem gula e se confessa pecadora.  Estou em qualquer lugar onde não estou. Tenho ausência. Não sei de quê. Talvez de mim. A chuva voltou, fazendo-me úmido qual mulher feliz. Tenho desejo de revolução. No meu nada.


R.B.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Meus Exercícios de Manoelês I


Palavras
Gosto de brincar com elas.
Tenho preguiça de ser sério.
Manoel de Barros

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul.
- Que nem uma criança que olha você de ave.
                                                                                     Manoel de Barros

O escuro me abraçou.
Vi poesia.

****
Só a luz apaga o homem.

****
Enquanto lia Manoel de Barros
lavei roupa suja.

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Amor morre de repetitite.

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O telefone roubou meu pensamento.

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Entre quatro paredes
Transo o tempo.
As palavras
Me gozam.

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A palavra é desonesta.

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Poesia
rima com
orgia.
Vadia.

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As estrelas dormem em Lola.

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Ser é verbo que não existe.

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Sou Homo.
Multiação.
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As palavras enxergam dia.
Mas sonham noite.

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O nome do meu ventilador era Alívio.
Por acaso, irmão de Olívio.
Usei os dois.

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Minha ausência não passa de entrega.

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Quando não estou
não saí daqui.

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O mundo é uma pintura a olhos.

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O silêncio come pensamentos.

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O mundo mora em Waireless.

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A cachaça me enso(m)bria.

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Na minha Certidão só tem letras.

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Gênero não se define.
Sexo se pratica.

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Copio e Colo tudo que invento.

                                                                                                    
                                                             Rodrigo Garcia Braz 
                                                           22/08/2011